Tuesday, November 18, 2008

Sem Papel

Olho no olho de quem me vê por 2 segundos
Depois pro Chão Parede Copo Cigarro Luzes
Ah! banheiro: sem papel

Seca com a Camiseta Braço Mão
Ah! no ombro de alguém: pronto?

De volta pro picadeiro.
A música está alta, a massa balança...
essa noite vai ser longa e no banheiro não tem papel.

Tuesday, October 28, 2008

À francesa

“E quanto isso tudo te custou? Os três, quatro dias no hospital?”
“Nada”
“Nada?”
“Nada....zero.”
“E isso, porquê..?”
“Eu...moro na França.”
“Você mora na França.”
“É”.
A Musica entra e imagens de pessoas francesas tomam a tela. Escuto muito focado a voz americana do narrador, sinto que ele vai atingir um ponto importante na sua história, sinto que ele realmente tem um bando de imagens fantásticas nesse seu filme, e sinto também que POW! PÈ, PÈ, PÈ, PÈ...
Olho pra janela. O que foi isso? Veio de fora. Nós quatro, que estávamos olhando constantemente para o narrador e seus entrevistados de voz americana e agora também francesa, olhamos um para os outros. Os franceses da tela param de tomar seus vinhos e fumar seus cigarros e olham para a janela, a nossa janela, invertendo a relação espectador-filme. Como nós, eles imaginam o que é o barulho que interrompeu o filme no qual estavam. Até o narrador muda sua atenção, e me pergunta o que aconteceu.
Nenhum deles pode ver o que está do outro lado, e nos olham curiosos. A única coisa a fazer é levantar e descobrir o que aquele barulho de onomatopéias “POW” e “PÉ, PÉ, PÉ” quer dizer.
Mais rápido que eu, meu amigo levanta e vê a rua. Ele está de tênis, eu, de meia.
O que ousou nos interromper às 3 da manhã do domingo, durante o filme de vozes americanas, foi uma pedra.
Jogada por um homem, a pedra teve a função de quebrar o vidro do carro que estava parado diretamente à frente do prédio, e que por acaso, era meu. Para meus amigos, para os franceses e para o narrador, eu me transformei no protagonista, e o filme se tornou um roubo de carro. O meu carro.
No meio das onomatopéias brasileiras, que seguramente para os franceses teriam outra escrita, meu amigo grita:
“PÈ, OU, PÉ, OU, PÉ, VAI, PÉ, VAI, PÉ, CUZÃO!”
E de repente o homem sai de dentro do meu carro, de mãos vazias e corre, prendendo seu chinelo havaianas com o dedão e o dedo-do-lado-do-dedão-que-não-tem-nome.
Desligo o alarme e o PÉ, PÈ, PÈ vira um rápido PÃ, PÂ, e cessa. Meço o estrago. Vidro quebrado, nada roubado. Se esse filme de roubo de carro tivesse mais espectadores, essa seria a hora que o interesse diminuiria, e os executivos do estúdio demandariam algum novo acontecimento.
Mas como eles tem reunião de manhã, já estão dormindo, e a platéia fica impaciente. “Amanhã você arruma!” gritam os mais enfadados.
Entro em casa e o olhar dos franceses e a voz do narrador me seguem. Eu me sento, e aperto o play. A musica entra de novo. A voz volta a seu tom normal.
“Ahh os franceses...eles tem os seus cigarros, seu vinho e suas comidas gordurosas, e mesmo assim, como os ingleses e os canadenses, eles vivem muito mais tempo do que nós americanos. Algo nisso me soa absurdamente injusto.”
Eles também não têm pedras atiradas nos vidros de seus carros igual a nós brasileiros.

E tudo se torna uma comédia de humor negro.

Monday, October 27, 2008

Australia

I tell a girl that he´s our good friend from Australia. I don’t really think about what I say and we head off to the airport. Queen plays a convenient “Oh won´t you take me home tonight” and transcribes what we´re doing into music, through the radio.
All we can manage to say to each other is “always a pleasure” and “Have a safe trip back”. I even try a “see you soon”, to which I´m answered “hell yeah, mate”.
Everything else I could write about this is taken over by being Tired.
Tired of going out and staying up until it´s time for the flight. Tired of thinking I´ll have to get up in less than 6 hours. But most of all, Tired of seeing good people off as they head back a world away.
When that girl asked who Adam was, I also should have said: He will be out of our car and in a plane so quickly we won´t realize how fast our lives are moving.
As his plane takes him back to Sydney, Tired will take me to bed. I can´t manage to write much more, so here is something that represents all else, which Tired has stolen:
Have a safe trip back, mate. We´ll see you in Australia.

Sábado a noite

-Me diz o que é que te trás aqui. Justo aqui!
De todos os outros lugares que você não podia ir, vieste justo aqui.
Para quê vieste, afinal? Me diga!
.....
-E agora que já está aqui, o que vais fazer???
-All in.

Thirsty Helena

Helena will step on the land
With her left foot
Then the right foot
And the left again

And she´ll repeat it until daylight.

Now her friends debate if it´s a sane conduct.
But Helena is off to sell her products.

And while she´s at it
She´s invading
Betting on a race
With Dreadlock Danny

“Isn´t this feeling phenomenal?” - he asks right before
she trips and falls face first:
“Yeah it is, but I need to get rid of my thirst”.

Independência

Ele treina olhares e frases. Consegue carregar toda uma conversa, levada principalmente por uma, talvez duas, trocas de olhares em uma anedota, durante a qual em algum momento os dois se vêem, e ele lembra pra quem está contando.
Trocamos sorrisos.
Na infinidade da distância de dois lados de uma mesa, testa posições para seu braço. Acho que cotovelo na mesa não é mais falta de educação. Tudo evoluiu, porque não o estigma "cotovelo-na-mesa"?
Ele fica bem no meio. Separa os dois como um tratado colonial separa a Ilha de Vera Cruz.
Desse lado eu conto uma de minhas anedotas charmosas, evitando olhar direto nos seus olhos pra não perder a concentração. Quando olhar, tenho que ter certeza que é numa pausa, um momento em que ela se recupera de uma parte realmente engraçada, ou de um riso forçado. Mesmo assim, perde um pouco da concentração.
Dá pra ver tanto quando se olha no olho. Por exemplo: durante uma parte morna da história em que ele cria um pouco em cima do que realmente aconteceu, porque nessa parte, como num pedaço de texto aumentado, no qual originalmente nada se destacaria, ao olhar nos seus olhos percebe que ela estava pensando em outra coisa. Não tenta imaginar no quê. Ela pegou carona em seu olhar determinado a fazer dessa parte algo digno.
Disfarçou, olhou diretamente nos meus olhos e viu
muito.Voltou a prestar atenção.
Mas isso já não importava mais.
Ela tinha perdido o interesse, e ele, a concentração.
A mesa que os separava dobrou de tamanho. A anedota perdeu o charme.
Eu não alcançava mais nem a linha do tratado que meu cotovelo demarcou.